Na
Wikipédia ‘Kurt Cobain’ é um facto. No nosso espetáculo torna-se Paisagem.
Há um espaço onde existem corpos que passeiam por
caminhos que se desenham mentalmente. Passeiam-se naquele lugar como se já
milhares de anos se tivessem passado desde o primeiro passo. Nos seus olhares
vive o último instante passado que se quer projetar nos corpos inclinados para
a frente, na vontade de voltar a encontrar esse tempo perdido. Às vezes
entreolham-se entre si, como que trocando palavras secretas às quais não
conseguimos aceder por estarmos demasiado longe daquele horizonte. No entanto
escutamos o murmúrio que vão trocando e que nos invade à medida que o tempo
parece agora ter parado para nunca mais avançar. Na súbita paragem do tempo, o
espaço continua em constante movimento. E tudo nos parece contar uma longa
caminhada, que promete não terminar nunca. E tudo isto é um filme no qual os
corpos tombam agora, um por um, para se amontoarem numa pirâmide orientada para
o céu, como se debaixo do solo vivesse a palavra prometida que se quer soltar
na direção mais longínqua que encontrar. É este o movimento que vive nestes
corpos que ora se escondem ora se mostram, ensaiando formas de expansão da
paisagem em que se tornaram. Ouvem-se gritos que parecem saídos de tempos
passados, de territórios povoados por memórias. Do lado de fora do grito mora
um desejo de fuga que respira agora ofegante nos nossos ouvidos. É um espaço
intermédio que vive à nossa frente e que nos prende com os dentes cerrados. O
facto torna-se segredo ao vê-los agora curvados sobre si mesmos, enquanto os
cabelos caídos na face nos escondem o olhar que há pouco nos guiava.
Já não há segredo fora deles. Instalou-se nos seus
corpos. ‘Kurt Cobain’ torna-se paisagem.
Ana Gil & Nuno Leão
Sem comentários:
Enviar um comentário